26 de fevereiro de 2009

Marcas do prazer

Eu tento, mas nada encontro de tão divertido, algo que me tire deste maldito tédio. Antes aprisionada do que acumular futilidades com pessoas idiotas. Sim, idiotas. Não que eu seja alguém muito superior, mas ultimamente o mundo está tão rebaixado que sinto pena ao invés de odiar as pessoas. Infelizmente sem opções, sou obrigada a viver aqui, destinada a aprender pelos os que não aprendem.

Estudar, escrever, passar o tempo da forma mais sábia. Bom proveito tiro disso, mas o divertimento que era pra ser tornou-se cansativo, rotineiro. Juro que não sou nenhuma anti-social, apesar de gostar de ficar na minha. Pelo contrário, tenho amigos, quer dizer, colegas, companhias apenas, só para dizer que não sou sozinha. Acabou que fingir virou um hábito e tenho orgulho disso, sou uma atriz.

Decidi correr atrás do perigo, talvez assim a vida se tornasse divertida. Apesar de calculista, não pensei duas vezes, queria lá saber de conseqüências? Não, não dessa vez. Afinal, é só uma mudança que logo passará. Óbvio, só passará depois d’eu ter encontrado minha diversão. Quanto mais rápido, melhor. É só planejar cair nas piores armadilhas. E estou decidida: andar de noite nesta cidade violenta é pedir...

...Pedir pra morrer, ser assaltada, estuprada, seja o que for. Se os ativos se divertem fazendo tal coisa, por que eu sendo passiva não me divertiria também? Com a cara e coragem, parei de enrolar e comecei a caminhar por ruas estreitas e largas, claras e escuras, estranhas e medonhas. Incrível como nem o frio me arrepia, fico me perguntando se estou perdendo tempo buscando pelo tudo que pode ser nada.

Busquei noites pela minha querida diversão que não aparecia, cheguei a andar com meu lindo Astra vermelho desejando ser assaltada, mas tudo que presenciei foi uma garota chupando um cara naquele beco à esquerda, sendo forçada ou não, parecia estar gostando. Decidi ir pra casa e caminhei até essa rua, já que não era tão longe. Fui e voltei, continuei a observar a garota, aquilo me excitava aos poucos.

Continuei a observar encostada num poste, foi tão rápido que desisti, vi o tal homem dando dinheiro para a mulher e descobri que era só mais um programa dela... Em direção a ele fui andando, sabe-se lá qual lugar ele iria, não importava. Eu só queria caminhar e descobrir algo novo. Mas como tenho azar e nada iria acontecer, resolvi desistir e mudar de rumo. Passei na frente dele sem medo algum e continuei andando.

Estava tão distraída que demorei pra ver que aquele homem percebeu minha presença. Senti calafrios e ao mesmo tempo alívio, finalmente algo ia acontecer. Talvez fosse mesmo minha noite de sorte. Resolvi testar e confirmar se ele estava realmente me seguindo. Apressei os passos, logo ele também. Diminuí os passos e ele também. Estremeci ao ouvir uma voz ordenando:

– Pare aí, agora! Acha que não percebi sua vontade ao ver aquela puta me chupando? Estava te vendo desde o início, assim como não parava de me observar. Agora terás o que tanto queres! – Mal pude responder e senti sua mão apertando minha cintura me encaminhando para outro lugar. Obedeci. Aquilo soava divertido. A lua estava sumindo do céu, estava um breu só, tão escuro, tão escuro!

Paramos em frente a um prédio estranho. Ele abriu a porta e com uma arma mandou que eu subisse, não hesitei e subi. Fiquei tão surpresa pela sorte atrasada que cheguei a pensar que a arma era de brinquedo.

Logo vi que ele estava me levando para um quarto, bagunçado, porém limpo.

Meu coração acelerou e finalmente eu estava ficando assustada. Ele parecia tão perverso. Ele me beijava loucamente, era gostoso. O maldito era mesmo rápido, me amarrou nas pontas da cama e de jeito nenhum eu conseguia me mexer, apenas gritava e gemia a cada peça de roupa minha que ele tirava e passava a língua em mim.

Um canivete à mostra, quase caindo do bolso dele. Ele pegou e tentei negar o que minha imaginação pregava. Era óbvio o que ele pretendia fazer e isso me assustava. Fechei os olhos, assim eu poderia imaginar algo menos doloroso quando a tortura começasse.

Enquanto eu sentia minha pele rasgar detalhadamente e meu sangue quente escorrendo pela pele fria que me cobre, ele se divertia apreciando minha cara de dor. Não sabia que tortura fazia parte da diversão, mas que força me tinha diante deste homem? Nenhuma. Senti a ponta do canivete deslizando mais uma vez sobre o desenho curvo de meu corpo. Minhas veias palpitavam, meu coração batia tão acelerado. Aquilo ardia à medida que os cortes se abriam. Não sei se chorava de dor, medo ou humilhação.

Esses vinte minutos pareciam uma hora, o silêncio dele fazia o tempo parecer longo. Até que enfim, resolveu falar:

– Assustada? Você tem o perfil que eu adoro e ainda foi corajosa o bastante para me seguir, então se você gosta de experimentar coisas diferentes essa é a hora. Não reclame e não tente me desobedecer, apenas sinta. – Como uma ordem, fiquei calada e não quis arriscar em falar algo.

Fiquei contando os minutos para que terminasse logo, se ele quisesse me matar por que não matava logo? Mas não, preferiu me torturar, provocar...

Além de ter experimentado meu sangue doce ou amargo pelos cortes longos, ele também me penetrou toda. Se eu não tivesse gostado tanto não teria gozado, ele então... Pareceu adorar. Arrisquei e resolvi falar algo:

– O que mais pretende fazer?

– Não farei nada, já matei teu desejo e posso ver em seus olhos. Agora que já sabe meu endereço pode voltar quando quiser. Tenho sempre diversões novas e cada vez mais perigosas. E seu teu instinto é tão animal quanto o meu você estará...

– Continue. – Temia a resposta, mas precisava ouvir.

– Se teu instinto é tão animal quanto o meu você estará presa a mim. Sou tão viciante quanto heroína.

Vesti minhas roupas e ele também. Quando eu estava perto da porta prestes a sair, ele puxou meu braço e disse:

– Pra garantir que nada vai acontecer com você te darei uma carona.

Engraçado como ele teve a gentileza de me falar isso, não imagino o que mais poderia me acontecer depois de tudo que ele fez! Respirei fundo e aceitei a carona, se eu recusasse o que poderia acontecer?

Os dias passavam e eu fazia um tremendo esforço pra continuar tirando notas boas na faculdade. Ele não saía da minha mente. Eu esperava a visita dele, mas jamais ousaria visitá-lo.

Dessa vez eu não queria correr atrás do perigo e sim que ele me achasse. Que me achasse e largasse, mas não foi o que aconteceu. O perigo me pegou. Tarde demais. Tudo mudou. Engano meu achar que seria uma mudança temporária e não permanente.

Eu nem sequer estava apaixonada por ele, não conseguia entender o porquê d’eu pensar tanto. Frustração. Sim, eu estava frustrada. Maldito dia em que o conheci, maldita teimosia minha. É incrível como um não pensar tão pequeno resulta num estrago enorme. Minha alma manchada ficou, experimentei o que minha personalidade não permitia, infringi os limites.

Cada vez que eu olhava as marcas que ficaram dos cortes imagens vinham à tona. Aquele dia me atormentava tanto! Por nada nesse mundo me deixava em paz.

Surpresa. Correio. Recebi uma carta. Estranhei. Ninguém me mandava nada há séculos. Rasguei o envelope depressa e desdobrei o papel no qual estava escrito:

Olhe ao teu redor e veja o quão sozinha estás. Tua solidão te aprisiona enquanto sua alma repugnante devaneia a cada momento buscando respostas inexistentes. Não desperdice seu tempo procurando-as, é perda total. O ar em seus pulmões conta os segundos para o fim desta usura. Fingindo não importar. Carcaça válida para um corpo atingível. Sua vida é um jogo arbitrário, onde regras são contrárias e só as próprias vontades são atendidas. Desista. Renda-se. Você está perdida e ninguém poderá salvar.

Não tinha assinatura nem o nome do remetente, mas deu pra perceber que era aquele homem... Aquele homem que apavorava meus sonhos e atormentava minha mente a qualquer hora.

Rendo-me.

Isabelle Soares Souza de Assis, 01 de fevereiro de 2009.

2 comentários:

Mariane disse...

-
muito bom o seu conto.
Gostei bastante...


me soou um pouco sistinas ;)

Beeijos
Até Breve.

Anônimo disse...

Muito bom mesmo, vindo de você não me supreende a qualidade!.. mas três semanas sem te ler, já castigo Ice!